Veja como mercado reagiu às entrevistas de Lula e Bolsonaro no Jornal Nacional
‘Ninguém adicionou uma camada nova de incerteza nas entrevistas’, resume gestor
As entrevistas dos candidatos à presidência da República no Jornal Nacional não tiveram impacto na Bolsa de Valores e na cotação de dólar esta semana.
Na avaliação de analistas, não houve fatos novos que justificassem um impacto nos mercados. Além disso, as entrevistas também não ajudaram a dirimir a principal dúvida dos analistas financeiros, que é qual será a âncora fiscal a ser adotada pelo presidente eleito.
Além disso, a semana é marcada pelo simpósio de Jackson Hole, evento anual organizado pelo Federal Reserve, Banco Central americano, que foi o grande atrator de atenções dos investidores nos últimos pregões.
Os agentes, portanto, estavam mais preocupados com a mensagem que o presidente do principal banco central do mundo, Jerome Powell, iria passar sobre a continuidade do processo de altas de juros naquele país do que nas falas dos candidatos.
O aumento das taxas americana impacta as condições financeiras não só nos EUA como nos mercados globais e, por isso, recebe tanta atenção.
Até o fechamento de quinta-feira, quando já haviam sido entrevistados Jair Bolsonaro (PL) e Ciro Gomes (PDT), o Ibovespa tinha alta acumulada de 1,83% na semana e o dólar, queda de 1,07%.
Nesta sexta, o principal índice da B3 opera em forte queda, sendo influenciado pelas falas de Powell, e não pelas declarações de Lula (PT), candidato que concedeu entrevista na noite de quinta-feira.
Profissionais do mercado têm ressaltado nas últimas semanas que o principal ponto de inquietação dos investidores se dá sobre o plano econômico dos candidatos e, principalmente, qual será a política fiscal adotada pelo governo que assume em janeiro de 2023, já que a principal âncora a sinalizar a sustentabilidade futura das contas públicas, que é o teto de gastos, passou por inúmeras alterações desde o debate sobre a PEC dos Precatórios no segundo semestre do ano passado.
Para o economista-chefe da Órama, Alexandre Espírito Santo, tanto a entrevista de Bolsonaro quanto de Lula não foram suficientes para esclarecer esses questionamentos.
— Vamos precisar dar um novo norte para a questão fiscal e isso acaba batendo na nossa principal âncora que é o teto de gastos, que está cheio de goteiras. O mercado sabe que o novo presidente vai precisar se debruçar em um novo arcabouço fiscal. Esse é o nó que temos que desatar. Como vamos conduzir um novo fiscal? Não vi as entrevistas abordarem muito isso.
O especialista acredita que a medida que o dia da eleição se aproxime, a tendência é que os temas econômicos passem a ser cada vez mais relevantes, o que pode impactar nos ativos.
O gestor de fundos da Arena Investimentos, Maurício Pedrosa, ressalta que ao se tratar da economia, muitos temas estão sendo deixados para 2023, como as condições para a continuidade do pagamento do Auxílio Brasil nos valores atuais, pressões para reajuste do funcionalismo e a questão da redução de alíquotas como o ICMS.
Se as medidas de estímulo devem ajudar a manter o crescimento em 2022, elas colocam pressão sobre as expectativas para a inflação e para o crescimento no próximo ano. E os principais candidatos já deram sinalizações recentes sobre a manutenção do Auxílio Brasil no valor de R$ 600.
— O mercado ainda não viu luz como o novo governo vai gerenciar as demandas e as provisões a elas. Se o Lula e Bolsonaro não dão clareza como vão lidar com as contas públicas no ano que vem, o mercado não reage.
Segundo Pedrosa, boa parte do mercado precifica que os benefícios sociais serão continuados no atual patamar, mas falta clareza sobre como o candidato eleito vai financiá-los.
— Ninguém adicionou uma camada nova de incerteza nas entrevistas, mas ninguém colocou luz de como vai enfrentar o problema. Os candidatos falam em mudar o teto de gastos, mas sem dizer qual será a institucionalidade colocada no lugar — disse.
Para o gestor da Arena, passada a eleição, no entanto, os ativos domésticos podem se beneficiar da retirada de incerteza, visão que é compartilhada por diversos agentes do mercado.