Vilmar Rocha recomenda que Vanderlan Cardoso lance pré-candidatura a Prefeitura de Goiânia até novembro
Fundador e ex-presidente do PSD em Goiás também defende que partido fuja da polarização nacional
Se depender do ex-presidente do PSD em Goiás, Vilmar Rocha, o senador Vanderlan Cardoso (PSD) – seu sucessor à frente ao comando da legenda – deve anunciar que vai mesmo disputar o Paço Municipal ainda este ano – entre outubro e novembro. “Ele é o candidato natural do partido”, destacou em entrevista exclusiva ao Mais Goiás.
Vilmar também recomenda que o partido caminhe longe da polarização nacional protagonizada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “Eu defenderia uma forte aliança do centro-político em Goiânia e nas maiores cidades”. Cita como exemplo a aliança com o governador Ronaldo Caiado (União Brasil) e o MDB.
Desde que passou o bastão do partido para o senador Vanderlan Cardoso, o ex-deputado Vilmar Rocha decidiu que não abandonaria a política. À frente de um Instituto que leva seu nome e ainda na executiva nacional do partido, participa, mesmo que com certa distância, dos diálogos e debates. Impossível, no entanto, não falar das eleições municipais que se avizinham.
Horas antes da entrevista Vilmar encontrava-se com o prefeito de uma cidade do interior de Goiás e volta e meia encontra-se com lideranças políticas, protagonistas e coadjuvantes no processo eleitoral. Cita, por exemplo, encontros com o professor Edward Madureira e a deputada federal Adriana Accorsi, ambos do PT, além do ex-deputado federal Major Vitor Hugo, do PL, numa demonstração que tem bom trânsito com personagens de todas as colorações ideológicas.
Também se dá ao direito de discordar com o presidente do seu partido. É que Vanderlan Cardoso defende para janeiro a definição de sua candidatura. “Eu acho que devia ser antes. Porque dezembro e janeiro são meses de festa e férias. Tem de definir antes”, recomenda.
Leia a entrevista na íntegra com Vilmar Rocha ao Mais Goiás:
Domingos Ketelbey: Desde que saiu da presidência do PSD, qual tem sido o seu principal foco?
Vilmar Rocha: Neste segundo semestre, depois que deixei a presidência do partido, tenho executado uma agenda acadêmica, política, institucional e cultural. Não estou fazendo trabalho partidário nem eleitoral. Quando deixei a presidência do PSD disse duas coisas e tenho as honrado: a primeira, é que vou continuar no jogo político. Tenho continuado nesse jogo com essa agenda. A segunda coisa é que ano que vem vou participar das eleições municipais. Já tenho articulado e participando para fortalecer o PSD. Minha meta é ajudar a eleger prefeitos e vereadores.
Quando começam de fato essas discussões?
Vilmar Rocha: A discussão é a seguinte: a eleição começa no dia 7 de abril, quando termina o prazo das filiações e mudança de partido. Daqui até o dia 6 de abril muitas articulações além de muitas definições. O cenário das eleições de 2024 só estará de fato claro no dia 7 de abril, quando efetivamente começa a campanha.
Mas muita gente tem articulado desde já, parece que já vivemos a campanha de 2024…
Vilmar Rocha: As conversas e articulações permanecem sempre. Termina uma eleição já começa a seguinte. Eu acredito que a partir de outubro há menos de um ano do pleito vão ficando mais fortes. Dou dois exemplos: a primeira é a definição da candidatura da Adriana Accorsi, do PT. Esteve aqui comigo há uns dois meses o meu colega, professor Edward Madureira. Falei para ele que o partido precisava de definir. Agora definiu. A Adriana vai ser a candidata do PT com a concordância dele. Já foi uma definição importante. A segunda foi a candidatura da Ana Paula Rezende. Eu nunca acreditei que ela seria candidata. Para mim não foi surpresa a desistência. Não que ela tenha me dito, mas era minha avaliação. Agora, o MDB e o União Brasil vão ter de escolher um nome.
E o PSD? O que defende para o partido?
Vilmar Rocha: Eu já disse e reafirmo. Disse isso muito antes de deixar a presidência do partido. O candidato natural a prefeito pelo PSD é o senador Vanderlan Cardoso. Eu disse a ele também externei minha opinião publicamente que ele teria de definir logo entre outubro e janeiro.
Ele fala em deixar para janeiro…
Vilmar Rocha: Sim, essa é a posição dele. Eu acho que devia ser antes. Porquê? Dezembro e janeiro são meses de festa e férias. Tem de definir antes. Acho correto o que a Adriana fez agora. Primeiro, para montar a chapa e nominata de chapas para vereador e isso não pode ser montado de última hora. Isso é muito importante para a eleição. Segundo, é preciso montar uma equipe para a eleição. Tem toda uma estrutura e leva tempo isso. Terceiro lugar, é preparar não um plano de governo mas desde já promover ideias centrais para levar a população um projeto para Goiânia. Isso leva a tempo. Eu acho que em outubro e novembro deve-se definir igual o PT fez corretamente.
O senhor defende então que ele defina logo?
Vilmar Rocha: Tem que definir a candidatura do partido para que ele possa ter tempo e se preparar para a eleição do ano que vem que começa no dia 7 de abril, porque aí o quadro estará definido e começa a pré-campanha. A partir de abril, a pré-campanha será mais importante que a campanha.
Porquê?
Vilmar Rocha: Boa pergunta. São quatro meses de pré-campanha, enquanto a campanha são apenas dois meses. Há outro fator: no período da pré-campanha, o pré-candidato não tem o controle da Justiça Eleitoral. Não há satisfações para se dar a Justiça Eleitoral porque é só pré-campanha. Só não dá para pedir voto mas é como se fosse uma campanha. Dá para fazer maiores reuniões, por exemplo. A campanha é muito curta e tem uma série de restrições. É uma colheita daquilo que foi plantado na pré-campanha. Por essas razões, a pré-candidatura tem de ser definida antes.
O senhor citou a desistência da Ana Paula Rezende que era a preferida do governador Ronaldo Caiado para a disputa. Nesse meio tempo, o senador Vanderlan Cardoso tem se reaproximado gradativamente com o chefe do executivo. Acha que no fim das contas ambos podem caminhar de novo no mesmo palanque?
Vilmar Rocha: Não sei. Nesse assunto estou completamente à margem. Não participo dessas conversas e articulações. Nunca conversei sobre o assunto nem com o governador Ronaldo Caiado, nem com Vanderlan Cardoso. Acho que essa pergunta deve ser dirigida a ambos.
Mas o senhor é um observador privilegiado do processo… Está próximo de ambos.
Vilmar Rocha: Você está certo, sou um observador, mas estou por fora. Posso falar que em política tudo é possível e nada é impossível. Há assuntos menos ou mais prováveis. Eu não consigo fazer essa avaliação porque nunca falei com eles sobre esse assunto.
O governador Ronaldo Caiado tem falado sucessiva vezes que pretende reunir toda a base que o elegeu em 2018 ao redor dele. Essa candidatura independente do PSD em Goiânia não pode causar fissuras na base?
Vilmar Rocha: Acredito que não. “A sua excelência a realidade local”. A realidade local é diferente. Os partidos são autônomos e independentes. Vou dar um exemplo da eleição de 2016 que lançamos o Francisco Júnior, eu era secretário de Estado e banquei uma candidatura contra a do governo. Não temos compromisso de estar nesta aliança, ao contrário, o compromisso do PSD sempre foi de ter candidatura própria na capital e nas maiores cidades…
E o governador sabe que o PSD não tem esse compromisso?
Vilmar Rocha: O governador sabe disso e tenho dito reiteradamente. O PSD e qualquer outro partido relevante tem de estar na chapa majoritária. Em 2024, qualquer partido relevante tem de ter candidato a prefeito nas eleições.
Como a minirreforma eleitoral pode impactar nessa próxima eleição?
Vilmar Rocha: Pouco. Essa minirreforma é apenas um ajuste como o próprio nome já diz. Ela não vai alterar o quadro.
O senhor a considera positiva?
Vilmar Rocha: Considero. A gente conhece pouco dela mas pelo que já foi exposto mas tem alguns ajustes que precisam ser feitos. Pequenos ajustes que não vão impactar o processo eleitoral no ano que vem.
E a polarização entre Jair Bolsonaro e Lula será vista em 2022? Vai ter algum impacto?
Vilmar Rocha: Eu acredito que o chamado bolsonarismo e o PL junto com a extrema-direita vão ter espaços eleitorais. Não acredito que seja majoritário nem que ganhe a eleição. Olha o que eu estou dizendo. Eles vão ter um espaço menor do que foi em 2022 mas não a ponto de ganhar a eleição.
A polarização ficou no passado?
Vilmar Rocha: Veja bem: a eleição municipal tem outros ingredientes, razões e motivações. Não acredito que ela seja forte. Historicamente, Goiás é um estado conservador. O PT nunca ganhou a eleição estadual. Ganhou em Goiânia por circunstâncias de um momento. Acredito que o PL por exemplo, terá um espaço eleitoral mas não a ponto de ganhar a eleição.
E o PSD? Está na base do presidente Lula com ministros, mas aqui em Goiás o senador Vanderlan Cardoso e várias lideranças apoiaram o ex-presidente Jair Bolsonaro. Qual o caminho que o senhor defende para 2024 se tiver de escolher um lado?
Vilmar Rocha: Nenhum dos dois. Eu defenderia uma forte aliança do centro-político em Goiânia e nas maiores cidades. Com o governador Ronaldo Caiado, com o MDB, todos os partidos do centro, fugindo dessa polarização. Que o PL e o PT possam ter suas alianças para lá. Não defendo aliança nem com um nem com outro.
E com relação a 2026? O governador Ronaldo Caiado quer ser candidato a presidente da República…
Vilmar Rocha: Ele está trabalhando num espaço político interessante. Ele já se apresentou e tem um partido com grande estrutura como o União Brasil. Ele tem feito um bom trabalho para se projetar e se posicionar no quadro da política nacional. Acho que está indo bem, mas se vai viabilizar ou não está muito cedo para definir. Isso tem de ser construído.