Visita de Pazuello reforça laço de Caiado com governo federal, mas não agrega, diz analista político
Eduardo Pazuello, ministro da Saúde, estará em Goiânia nesta sexta-feira (11) para a inauguração do…
Eduardo Pazuello, ministro da Saúde, estará em Goiânia nesta sexta-feira (11) para a inauguração do Hospital e Maternidade Municipal Célia Câmara (HMMCC). Com as recentes declarações do governador Ronaldo Caiado (DEM) – que estará no evento – em favor do governo federal, o evento pode significar uma reaproximação mais marcante, avalia cientista político. “Essa vinda do ministro é a chancela da proximidade dos dois, reforça laços e vínculos, mas não agrega a Caiado em capital político”, afirma o professor e consultor de marketing político Marcos Marinho, que é mestre em comunicação e doutorando nessa área.
Caiado, vale lembrar, criticou o governador João Doria (PSDB) por anunciar vacinação antes do governo federal e a Associação Goiana de Municípios (AGM), que agendou encontro com o governo de São Paulo para a possível aquisição de imunizantes. Desta forma, Marinho afirma que o goiano tem errado muito neste momento. “Ele esqueceu que o auge dele foi justamente quando rompeu com Bolsonaro, se atendo a ciência e tomando medidas mais enérgicas [contra a pandemia].”
Ainda de acordo com Marinho, seria mais acertado que o governador seguisse a linha de João Doria para se capitalizar politicamente, em vez de recuar ao estágio de negação, se aproximando de um governo inepto. “O Ministério da Saúde não tem a menor noção de como lidar com essa situação.”
Momento político
Ainda segundo Marinho, Caiado está perdendo a capacidade de se conectar com o momento político. “Não dá para fazer proselitismo e dizer que não há interesses políticos [na questão da vacinação]. Há e sempre vai haver em um problema de saúde pública, que é gerido por definições políticas”, avalia.
Para ele, o governador tentar “pichar” Doria e a AGM, porque estão sendo adiantados, não faz sentido para a população que está padecendo. “Demonstra que, em vez de trabalhar mais duro, tenta atrapalhar quem está fazendo. É isso que o senso comum percebe, pois entende-se que a economia irá melhorar quando as pessoas perderem o medo, quando todos forem vacinados.”
Governo de improviso
Doutor em Ciências da Comunicação e Especialista em Políticas Públicas, o professor Luiz Signates afirma que, dada a inércia do governo federal em criar um plano nacional em meio a uma pandemia, naturalmente as lideranças municipais e estaduais têm um sentido justo de urgência, próprio de estados de calamidade ou guerra.
“O governo Bolsonaro é um governo de improviso e sujeito aos rompantes desatinados do presidente. É claro que campanha de vacinação, para ser eficaz, teria que obedecer a um plano nacional, feito com planejamento e competência. Mas é exatamente isso o que o governo federal não tem.”
Segundo ele, Bolsonaro está, aparentemente, mais preocupado com a própria imagem e com as eleições de 2022. Nesse sentido, reage midiaticamente. “Por isso anuncia contratos que não foram assinados, marca datas que dificilmente cumprirá e tenta submeter eventuais adversários eleitorais (Doria, o caso típico) a agendas improvisadas. Em suma, o País está à deriva.” Apesar das análises, segundo a assessoria do governo de Goiás, o evento é da Prefeitura de Goiânia.
“Não subestimo Caiado”, diz Signates. “É um político experiente demais para fazer tolices grandes. Acho que o Estado está sem dinheiro para garantir toda a cobertura vacinal e talvez por isso esteja do lado dos que pressionam o governo federal a cumprir sua parte. Mas é só o que eu desconfio que seja. Não tenho informações para além dessa interpretação”.
Retrospectiva
Nesta quinta (10), vale lembrar, o governador chamou de “oportunista” o agendamento feito pelo presidente da Associação Goiana de Municípios (AGM), Paulo Sérgio Rezende (PSDB), com o governo de São Paulo para possível compra de vacina contra o novo coronavírus. O imunizante, em questão, é desenvolvido pelo Instituto Butantan em parceria com a empresa Sinovac – e já alvo de críticas do presidente Bolsonaro.
Da mesma forma, na terça (8) Caiado disse a Pazuello que era “inaceitável” João Doria anunciar vacina antes do governo federal, durante reunião de governadores com o ministro da Saúde. “Como é que pode São Paulo dizer que no dia 25 de janeiro inicia o processo de vacinação? E que quem for para a São Paulo vai ser vacinado ? Então vamos falar as coisas como elas são. Isso é um constrangimento completo a nós governadores. Nós somos incompetentes? Essa situação, senhor ministro, é prerrogativa do Ministério.”
Coincidência ou não, a Anvisa aprovou autorização temporária para vacinação emergencial da Covid-19, em caráter experimental, já nesta quinta (10) – mas não há data ou plano. “A autorização de uso emergencial é um mecanismo que pode facilitar a disponibilização e o uso das vacinas contra Covid-19, ainda que não tenham sido avaliadas sob o crivo do registro, desde que cumpram com os requisitos mínimos de segurança, qualidade e eficácia”, disse Alessandra Bastos Soares, diretora da Anvisa. Ainda não tiveram pedidos de uso emergencial ou registro, contudo.