“Voto evangélico” será importante nas eleições municipais, mas terá menos força em relação a 2022, apostam especialistas
O que dois especialistas e um presidente de partido falam sobre o impacto do voto evangélico em 2024
Segmento do eleitorado brasileiro que fez diferença nas eleições em 2022 pautando o debate nacional, o “voto evangélico” deverá tornar a aparecer no pleito municipal em 2024 como coadjuvante, mas com menos força. É o que apostam dirigentes, presidentes de partidos e analistas políticos com os quais o Mais Goiás conversou ao longo dos últimos dias.
O mesmo reflete também na polarização nacional – entre o presidente da República, Lula (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que, apesar de estar presente no debate entre candidatos, não terá impactos estratosféricos nas respectivas campanhas.
Dados recentes do novo censo do Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que o número de evangélicos no Brasil cresceu aproximadamente 61,5% em relação aos últimos dez anos. São 16 milhões de novos fiéis numa acentuação do público em sobre os católicos. “A eleição de 2024 contará com reforço ainda maior dos evangélicos. Em 2026, maior que 2024 e por aí vai. Segundo os dados do IBGE o segmento vive uma tendência de crescimento”, avalia o cientista político Guilherme Carvalho.
Voto evangélico esmiuçado
Há, no entanto, que se avaliar os números de forma separada. “Em termos qualitativos, a gente tem que distinguir duas faixas: Primeiro, a do evangélico militante que tem o voto orgânico e normalmente é direcionado pelos líderes religiosos da Congregação que frequenta – e esse é o voto mais estratégico; e o voto evangélico tocado isoladamente que não é baseado nos valores que recebem no culto, mas sim, em preferências pessoais”, avalia Carvalho. Trata-se de um segmento que vem se diminuindo no nicho mas que não pode ser ignorado.
Carvalho acredita que a pauta ideológica terá presença relevante no debate, mas discussões particulares de cada bairro com relação a infraestrutura devem balizar o processo. No entanto, como cada líder religioso possui um grupo de eleitores fieis a sua palavra, este poderá ter um efeito importante como cabo eleitoral, tal qual o líder de bairro já teve um dia.
Segmento pode ser determinante para eleição de vereadores, mas não para prefeitos
O presidente do Solidariedade em Goiás, Denes Pereira avalia que o segmento evangélico será tão crucial em 2024 como foi em 2022, mas com suas ressalvas. “Para uma eleição proporcional, que vai eleger um vereador, terá um peso muito forte, sem sombra de dúvidas. São candidatos que são eleitos por segmentos e isso pode ser um diferencial. Já nas majoritárias, onde serão eleitos prefeitos e vice-prefeitos, é um voto que têm uma influência bem menor”, destaca.
Pereira explica as diferenças. “Quando se pensa num prefeito, as pessoas querem alguém que dê conta de cuidar da saúde, educação, do pavimento. Como vai ser o tapa-buraco, o cuidado com o município?”, indaga. “Esse é o maior peso”, completa. Por isso chega a conclusão de que o segmento será importante, mas em proporções menores. “Claro, esse voto ideológico terá sua relevância, mas bem menor do que foi em 2022”, destaca.
Denes acredita que isso irá refletir também na polarização entre Lula e Bolsonaro. Ambos os personagens estarão presentes nas campanhas, mas com menos força. “Vai ter uma polarização, mas menor, ainda mais à medida que isso aprofunda interior adentro, nos municípios menores. A eleição do ano passado foi muito polarizada. A gente espera que a do ano que vem seja menos”, salienta.
Voto dos religiosos é difuso e denominações podem provocar divergência no eleitorado
O especialista em marketing político Marcos Marinho avalia que não dá para apostar todas as fichas no eleitorado evangélico, haja vista que o setor é muito difuso. “As pessoas tendem a enxergar uma corrente única nesse segmento, mas isso não acontece dessa forma. Não dá para generalizar o voto evangélico”, destaca.
“Quando eu generalizo esse voto eu preciso anular as várias dissidências que há no ambiente evangélico, as muitas denominações e, principalmente, pensando na eleição municipal, deve-se ignorar todos os outros contextos”, postula ao portal.
“É importante, mas não aglutina”
Ele reforça a importância do eleitorado, mas afirma: por si só não aglutina. “No município, há uma fragmentação desse voto. A igrejas em vários bairros e regiões que tem uma particularidade específica que vai divergindo. Não é um voto completamente direcionado para um só caminho. Ele se manterá difuso”, pondera.
“A eleição federal usa um nível de pragmatismo diferente da eleição municipal. As pessoas sabem que não vão conviver com um presidente da República. Sabem que o convívio com um deputado federal, senador e governador é mais difícil. Agora, o vereador e prefeito a depender do tamanho do município é mais fácil e cotidiano. Há mais elementos que vão entrar nessa peneira do que simplesmente ser evangélico e a denominação de cada um. Lembrando, né, a depender da denominação a uma aproximação de candidato a A ou B”, explica.