Odair José: “rock n roll não é só barulho de guitarra; é atitude”
O cantor, que já foi chamado de "Bob Dylan da Central do Brasil", subirá no palco do Goiânia Noise neste sábado (19)
Apesar de ter sido criado em Goiás, Odair José não toca aqui há, no mínimo 15 anos. Agora, pela primeira vez no Goiânia Noise, ele promete agitar a cena alternativa goiana nesta sábado (19). Sites na internet o rotulam como um cantor “popular-romântico-brega”, mas ele rejeita este título.
Odair define seu com como pop influenciado por rock clássico, como Beatles e Rolling Stones. “Vejo rock and roll não só como um barulho de guitarra. O rock é atitude”, sublinha. “Quando comecei meu trabalho (em meados da década de 1970) fui até chamado de Bob Dylan da Central do Brasil”, disse.
Discutindo religião, política e causas sociais
Nesta época, Odair teve muito sucesso popular e marcou a década por ter sido censurado pelo governo com a canção Uma Vida Só, cujo refrão dizia “pare de tomar a pílula”. A frase ia contra as propagandas de controle de natalidade da época, mas ganhou o público.
Ele também ficou conhecido como o “terror das empregadas” com a canção Deixa Essa Vergonha de Lado, que narra a história de uma moça que tem vergonha de sua profissão, mas é amparada pelo namorado.
Mas seu marco foi o lançamento da ópera-rock ópera-rock Filho de José e Maria. No disco, totalmente conceitual, ele encarna um personagem que pode ser descrito como Jesus Cristo contemporâneo (algo que Green Day fez com St. Jimmy muitas décadas depois).
A personagem se envolve com drogas, coloca em dúvida sua condição e assume sua sexualidade aos 33 anos – idade que Jesus morreu – para viver plenitude e felicidade, após anos de tristeza. Apesar de ser adorado pela crítica até hoje, o disco levou à excomunhão de Odair José da Igreja Católica. Depois disso, seu desempenho comercial caiu e ele retornou à música romântica-brega.
Cena alternativa
Com um currículo desses, é claro que a cena alternativa abraçaria Odair José. “Tenho tocado Brasil afora para o público alternativo. O público tradicional gosta mais de balada romântica, duplas sertanejas,… algo distante do meu som”, conta.
Mesmo sem o desempenho comercial da década de 1970, Odair continua lançando discos. Hoje, seu som abraça a distorção das guitarras e deixa de lá os característicos teclados e instrumentos de corda que marcam seus primeiros singles. Prova disso são os discos Dia 16 e Gatos e Ratos, que, segundo ele, serão a base de seu show no sábado (19).
“Faz muito tempo que não toco aí”, confirmou Odair. “Vai ser um privilégio tocar no Goiânia Noise, além de muito divertido”, disse. Se a cena alternativa do Brasil todo abraçou este cantor que foi contra a corrente em tantos aspectos durante a década de 1970, por que aqui seria diferente?
Realmente, não é necessário ter barulho para ser rock and roll.