5 lições de comunicação que ajudaram a Nova Zelândia na luta contra a pandemia
A jornalista Liliane Bueno mostra como a comunicação da primeira-ministra Jacinda Ardern foi uma das armas contra o vírus
Na última segunda-feira, 4 de maio, a Nova Zelândia registrou as primeiras 24 horas sem nenhum caso de Covid-19 no país. Foi a primeira vez que isso aconteceu após o início da quarentena. A comunicação da líder daquele país é um dos motivos que explicam o sucesso na luta contra a pandemia.
No domingo, durante uma reportagem exibida no Fantástico sobre o país, o epidemiologista e professor de Saúde Pública, Michael Baker, justificou os bons resultados devido a uma combinação de ciência e um bom governo.
Por isso, eu, como jornalista e comunicadora, quis entender melhor como a comunicação se fez presente nessa combinação positiva em tempos difíceis.
Separei 5 lições a partir da observação sobre Jacinda Ardern, Primeira-Ministra da Nova Zelândia.
Mulher, 39 anos, progressista de centro-esquerda, ela tem dado um belo exemplo de como a comunicação é uma forte aliada dos líderes em momentos de crise. E isso, não sou eu quem digo! Mas a própria população, imprensa e autoridades, como você vê abaixo!
5 lições a partir da comunicação de Jacinda Ardern:
1. Posicionamento:
Desde o primeiro momento, Jacinda se posicionou como porta-voz do país. Pode parecer óbvio pela posição política que ela ocupa, mas há países em que a autoridade de saúde faz esse papel, por exemplo.
Isso é muito importante, porque em momentos de ruptura (como este que estamos vivendo), as pessoas procuram referências para seguir e se basear. E ter um líder político que inspirar essa credibilidade traz segurança à coletividade.
2. Transparência:
Ao assumir esta posição, ela chamou a responsabilidade para si. Todos os dias, Jacinda Ardern faz lives para atualizar a população sobre novos casos e sobre as medidas tomadas pelo governo. A premiê traz dados e informações para que todos estejam cientes.
3. Conexão:
A primeira-ministra se comunica de maneira acolhedora. Transmite informações essenciais como a necessidade do isolamento, de lavar as mãos… Mas vai além: no início da quarentena, pediu que as pessoas fossem gentis umas com as outras.
“Vão para casa hoje à noite e chequem como estão seus vizinhos, organizem os contatos telefônicos da rua e planejem como manterão o contato. Vamos superar isso juntos, mas somente se continuarmos juntos. Então, por favor, sejam fortes e sejam gentis.”
Além disso, na véspera da Páscoa, Jacinda se dirigiu até mesmo às crianças sobre a ausência do Coelho da Páscoa este ano:
“Digo às crianças da Nova Zelândia que, se o Coelho da Páscoa não chegar até sua casa, precisamos entender que é um momento difícil para que ele chegue a todos os lugares”.
4. Coerência:
Ao mesmo tempo em que fala sobre a importância de cada um fazer a sua parte, age como principal autoridade política da Nova Zelândia. Anunciou um corte de 20% no seu próprio salário e no de toda a cúpula do governo.
5. Clareza:
Depoimentos da população destacam a forma como a Primeira-Ministra se comunica. “Ela sabe do que está falando”, disse o epidemiologista Michael Baker. “A transparência e a clareza de como a comunicação é dada, faz toda a diferença”, relatou a professora Isa Hackett.
RESULTADOS
O líder que assume o papel que lhe pertence e pratica uma comunicação assertiva, pode ter uma certeza: os resultados vêm!
Há uma semana, foi a própria Primeira-Ministra Jacinda Ardern quem deu a boa notícia sobre o fim da transmissão comunitária do novo Coronavírus Nova Zelândia. E hoje, o primeiro dia sem novos casos. A maior vitória, com certeza!
Mas não para por aí. A premiê foi citada pela imprensa internacional como “Possivelmente a líder mais eficaz do nosso planeta”. O Financial Times chegou a chamá-la de “Santa Jacinda” e classificá-la como uma líder para nossos tempos problemáticos.
Uma análise que nos leva a refletir sobre como lideranças ainda podem sim, ser inspiradores, por mais desafiador que seja o cenário. É a prova de que liderança se constroem quando todos fazem parte, mas para isso, cada um precisa saber o seu papel na batalha.
E é a comunicação que leva essa mensagem. Uma arma tão poderosa de influência e credibilidade, que eu encerro com a frase do brasileiro que vive na Nova Zelândia:
“Se a Jacinda me pedir para ficar em casa, eu vou ficar em casa”.
E você, como sua equipe lhe responderia se investisse em sua comunicação?
Liliane Bueno – Jornalista, Mentora em Comunicação, Apresentadora de TV e Professora. Coautora do Livro “Liderança com Base nas Soft Skills”.