Redes sociais

Afrodengo: conheça o grupo de paquera para pessoas negras

Jornalista de Salvador criou o grupo e a demanda está tão grande que já planeja um aplicativo

A jornalista e empresária Lorena Ifé, de Salvador (BA), tinha uma inquietação com o aplicativo de paquera Tinder: onde estavam as pessoas negras? Ainda mais em Salvador, cidade com maior população negra fora da África do mundo. “vi que não era uma queixa somente minha, mas de pessoas que convivo, inclusive homens relatando a mesma questão em relação ao perfil de mulheres negras”, conta.

Daí veio a ideia de criar o Afrodengo: um grupo fechado de paquera no Facebook para que pessoas negras interessadas em conhecer outras pessoas negras pudessem se encontrar com facilidade. Foi um estouro: “Quando criei o Afrodengo não sabia que ia repercutir tanto. O número de solicitações só aumenta e o trabalho também. Mas eu tô feliz, de verdade. É essa revolução de amor preto que queria provocar”, ela escreveu em sua página pessoal no Facebook.

Lorena conta que se inspirou na ideia de outro grupo e que ficou impressionada com a repercussão, batendo as 10 mil solicitações em apenas uma semana: “No Facebook, faço parte de um grupo de carnaval do Rio de Janeiro criado por Thayna Trindade e nele ela lançou o post “Afrotinder, momento paquera” e as pessoas começaram a postar suas fotos. Me inspirando nessa ideia, decidi então criar um espaço na rede social Facebook somente para paquera entre pessoas negras de todo o Brasil”.

Segundo a empresária, o grupo possui membros de todo o Brasil, mas principalmente da Bahia e dos estados da região Sudeste. Além deles, alguns cidadãos africanos que residem no país também fazem parte.

Hoje em dia, ela disse que recebe cerca de 20 mensagens, grande parte solicitações para entrar no Afrodengo, todos os dias. Em seu perfil, ela comentou sobre como o grupo serve, ao mesmo tempo, como um espaço de debate, desabafo e formação, um porto seguro para as questões de afro-descendentes no País: “Me deixa feliz saber que tem sido um canal de desabafo também, as pessoas têm compartilhado suas dores, questionamentos e pensamentos em relação a afetividade negra. Tá tendo muita paquera, viu! Não sei se administro ou paquero também”, postou.

Ela contou que já esperava que o grupo acabasse transbordando para outros assuntos além de relacionamentos amorosos: “O grupo é um espaço de paquera, mas como somos mente, corpo e ideologias é claro que já surgiram essas questões. Discussões sobre a afetividade da mulher negra, relações inter-raciais a partir da premissa masculina, a hiperssexualização dos corpos da mulher negra e também do gay negro e várias outras questões que perpassam pela nossa afetividade. O grupo se tornou um espaço de desabafos e também para ajudar na autoestima dessas pessoas”.

Como nada é perfeito, é claro que algumas pessoas negativas já apareceram, criticaram a ideia ou foram desagradáveis de maneira geral, mas Lorena tira de cabeça: “Sempre vai existir, mas eu tô mais preocupada em concentrar minha energia nas coisas boas que o grupo oferece”. Perguntada sobre como o grupo atua ao mesmo tempo como um espaço de educação, ela relembra sua própria trajetória: “A consciência acerca da minha negritude começou há 10 anos quando passei pelo processo de transição capilar. Hoje tenho uma marca de acessórios e projeto de empoderamento crespo/negro chamada Encrespando que levo também como bandeira de luta para discutir formas de enfrentamento ao racismo”.

Agora, Lorena faz planos, especialmente o de criar um aplicativo para o Afrodengo: “A dimensão que o grupo tomou foi tanta que eu com uma equipe de amigos, amigas e parceiros maravilhosos estamos nos organizando para construir a identidade visual do Afrodengo e o aplicativo que parte do mesmo objetivo do grupo e para que as pessoas negras tenham autonomia na paquera”.