BBB 21: como o confinamento afeta a saúde mental dos participantes
Psicólogo explica como a dinâmica do isolamento afeta a vida dos brothers e como evitar danos à saúde
Como de costume o reality show Big Brother Brasil segue sua tradição de estreia no início do ano. No entanto, o programa deste ano começa em um momento delicado de nossa saúde pública: aumento dos casos de covid-19 e necessidade de isolamento social.
Há um cenário curioso: os participantes saem de um confinamento (distanciamento social) direto para outro, imposto pela dinâmica do reality. Será que isso traz alguma consequência para a saúde mental deles?
Isolamento dentro de outro isolamento
Um dos grandes desafios durante a pandemia é certamente manter-se mais afastado do convívio social, que pode desencadear diversas consequências. Alguns estudiosos já indicam uma piora da saúde mental das pessoas, com surgimento ou agravamento de sintomas de depressão, fobias e crises de ansiedade.
Destaco um estudo muito interessante que exemplificou como o confinamento e a necessidade de pertencer a grupos afeta as atitudes e emoções das pessoas, o Experimento de Aprisionamento de Stanford (1971) conduzido por Philip Zimbardo, que inclusive ganhou filme.
O desafio de estar afastado do convívio social
Como bons seres sociais, precisamos estar perto uns dos outros, seja nas rodas de amigos, no trabalho, na família, etc. O BBB coloca o desafio de conviver com estranhos e lidar com o jogo.
Temos aí um duplo desafio: pensar com estratégia e estar confinados com pessoas que não se conhecem. Esse ano ainda tendo adicionado a pouca convivência social que já estávamos enfrentando com a quarentena.
Com isso, é comum se sentir fragilizado, vulnerável e com dificuldades para organizar os próprios pensamentos e emoções. O que estamos assistindo é antes de tudo um experimento que mostra como lidamos com nossos limites e como isso afeta nossa saúde mental.
É possível se proteger?
Já foi mencionado que o reality conta com uma equipe multiprofissional (inclusive psicóloga), mesmo assim é um grande desafio cuidar de tantas pessoas, ao mesmo tempo, sem interferir no jogo.
Algumas reações são imprevisíveis, por isso é importante um monitoramento do comportamento dos participantes, afinal, vale tudo pelo entretenimento?
E também desperta para um grande problema aqui fora: a maioria das pessoas sequer tem acesso garantido ao atendimento em saúde mental. Pois além de ajudar as pessoas a lidarem com problemas, o serviço também deve ter a função de prevenir danos psicológicos e emocionais.
Prevenir ainda é melhor que remediar
Saúde mental é para além de terapia, significa construir uma vida com significado e agir para manter uma vida equilibrada dentro do que é possível.
O confinamento do Big Brother tem um objetivo: quem consegue vencer ganha 1,5 milhão de reais. O prêmio aqui fora, no entanto, é qualidade de vida, e isso depende em parte das escolhas que fazemos todos os dias.
As experiências que vemos na tela também devem servir para pensarmos nossas atitudes aqui fora, afinal de contas, é um reality, certo?
Luan César Carvalho é psicólogo graduado pela PUC-Goiás. Especialista em Terapia Intensiva pelo Hospital das Clínicas da UFG/EBSERH. Experiência como mediador extrajudicial pelo Tribunal de Justiça de Goiás e psicólogo social-comunitário no âmbito da Proteção Social Básica e Especial.