Negócios

BobsJet: empresárias goianas conseguem investimento no Shark Tank Brasil

Invenção de cabeleireira reinventa o uso de bobes e conquistou R$ 750 mil de investidores no reality show

No programa exibido no dia 20 de julho da segunda temporada de Shark Tank Brasil: Negociando com Tubarões, exibido pela Sony, teve conquista goiana no palco. A empresária Chris Taveira e a inventora Adriana Ribeiro apresentaram o BobsJet, máquina que reinventa a forma de se usar bobes tendo como principal diferencial a economia de tempo e a recuperação dos cabelos.

A máquina impressionou tanto os “tubarões” que conseguiu um investimento de R$ 750 mil de Luíza Helena Trajano, dona da Magazine Luíza, e de João Appolinário, fundador da Polishop.

A invenção, criada pela cabeleireira Adriana Ribeiro e por seu marido Valadares Vieira, inova ao injetar ar dentro dos bobes, secando-os de dentro pra fora. O resultado é um processo de secagem mais rápido e com temperaturas mais baixas, sem danificar o cabelo e sem que a pessoa precise ficar muito tempo esperando secar.

A máquina oferece um controle direto da temperatura e não precisa de uma temperatura alta. “O cabelo molhado começa com 70 graus e depois estabiliza a 55 graus. O toque do cabelo muda, a textura”, explica Chris, “São 15 minutos de preparação, mais 30 minutos na máquina, mais 15 para finalização. A gente preza pela qualidade e pra quem quer cuidar do cabelo e não fritá-lo com chapinha”. O aparelho inclusive já está patenteado nos EUA e está aguardando patente na Europa e no Brasil.

Adriana e Chris demonstrando o BobJet no Shark Tank (Divulgação)

O BobsJet já tem quatro protótipos em teste há um ano no salão Su Beauty do Setor Oeste, encorajado pelo cabeleireiro e empresário Suemar Borba. Foi lá que a investidora Chris Taveira, do grupo de investimentos NorthON, conheceu o produto e ao lado da sócia Cynnara Bretas procuraram imediatamente Adriana para investir.

“Foi um problema meu, com meu cabelo, tenho muita química e meu cabelo estava ficando ‘judiado’. Aí eu mudei de salão, fui lá pro Su e brinquei com ele, disse ‘Su, ou você resolve meu cabelo ou vou cortar joãozinho'”, conta Chris. “A primeira coisa que ele me disse foi pra parar de usar secador, que ele resseca o cabelo, principalmente com a química, ele mandou tirar o calor da minha vida. Mas disse ‘tenho uma solução aqui pra você experimentar'”.

A solução era, naturalmente, o BobsJet, que deu início ao processo de recuperação do cabelo da empresária e que a deixou impressionada de cara: “Assim que encontrei a Cynnara já cheguei falando ‘pega no meu cabelo’! (risos)”. Quando ela retornou ao salão, encontrou a inventora da máquina, Adriana, e a conversa informal logo abriu espaço para uma parceria de negócios.

Feito à mão

O primeiro protótipo foi feito à mão, após muito esforço, tentativas e erros por Adriana e Valadares. “Fizemos tudo manualmente. Mão de obra qualificada é difícil de achar. O primeiro nós fizemos inteiramente e aí os outros nós levamos pra ser replicado”, conta Adriana. “Esse estágio é muito difícil, porque às vezes a pessoa tem a ideia, mas a execução requer um investimento muito alto que o empreendedor não tem condições de bancar um protótipo. Mão de obra qualificada até tem, mas é tão cara que inviabiliza a criação”, relata Chris.

No fim das contas, o casal comprou um torninho mecânico e aprendeu a mexer na marra, desenhando e fabricando todas as peças. E foi um longo caminho, pois Adriana teve a ideia original em 2008: “A ideia veio mesmo da necessidade de reparar as danificações. Os secadores começaram a ficar muito quentes. Outros acessórios, como as piastras, também ficaram com temperaturas altas demais, batendo 200 graus ou mais. E aí vieram as selagens e progressivas. E as pessoas começaram a reclamar, ‘meu cabelo está muito seco’, e aí ele começa a quebrar das pontas pra raiz, não ganha mais comprimento”.

Outro problema foi a química: “A contaminação é muito alta, prejudica a saúde das pessoas”, conta. Devido ao seu desagrado com a química, com o calor e com os danos, Adriana ficou determinada a desenvolver um método que permitiria moldar o cabelo sem danificá-lo: “O Valadares perdeu a paciência e disse ‘vou criar uma máquina para recuperar esses cabelos”. Daí voltaram à ideia dos bobes.

O casal então fez pesquisas de mercado e não encontrou solução. O momento de eureka veio do nada: Adriana precisava secar uma calça rápido e teve a ideia de secá-la de dentro pra fora com um secador, fechando as barras. Aí ela percebeu que, injetando o ar, a calça secou em 10 minutos. “Daí saquei que os bobes não danificam os cabelos e que ninguém teve a ideia de fazê-lo injetável. A única informação negativa de quem usava bobes era o tempo que demorava pra secar”, conta. Aí foi a luta para criar cada parte: as mangueiras, os bobes, as válvulas.

Do protótipo à TV

Com a primeira versão funcionando – a própria Adriana era, naturalmente, a cobaia – o casal foi em busca de salões parceiros para testar. De cara Adriana disse ter encontrado investidores e salões interessados, inclusive em São Paulo, mas queria um parceiro para registrar patente e aí era difícil encontrar interessados. No final de 2014, conheceram Suemar Borba, do Su Beauty, que aprovou o projeto na hora. “Apresentei, ele entendeu, quis nem fazer testes”, conta Adriana.

Então veio o Shark Tank. Chris conta que já acompanhava o reality americano e viu a primeira temporada brasileira. “Quando abriram as inscrições nós decidimos tentar. O ‘não’ a gente já tinha”, conta. O processo seletivo é dividido em três etapas até finalmente chegar ao palco e às gravações. “O empreendedor não compete com os outros, ele apresenta o seu produto e tenta angariar investidores. Acaba que é uma disputa com você mesmo, com o nervosismo, com o domínio sobre o produto. O desafio maior é dominar a ansiedade”, conta Cynnara.

Com o sucesso no programa e o investimento de R$ 750 mil, os próximos passos envolvem um design redesenhado e mais comercial do BobsJet e sua industrialização. O objetivo é lançá-lo em abril de 2018, dez anos depois da ideia original de Adriana e Valadares, na Hair Brasil, em São Paulo. E é um produto que tem perspectivas internacionais: “O primeiro passo é botar ele no mercado e sentir a demanda e, no ano seguinte, vamos dar andamento pra poder exportar”, planeja Chris.