Comportamento nas redes sociais: felicidade se mede no Instagram?
Entenda como a felicidade virtual gera ansiedade na vida real causando impactos negativos nos relacionamentos e no trabalho
Você sabia que a cada minuto usuários do WhatsApp compartilham mais de 41 milhões de mensagens no aplicativo? Os dados são de 2020 e foram divulgados na 8ª edição do relatório “data never sleeps”, que em português significa “dados nunca dormem, produzido pela plataforma tecnológica Domo.
O volume exorbitante de dados gerados atualmente mostra que estamos cada vez conectados tecnologicamente e sendo impactados por uma verdadeira “infodemia”, que, segundo o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, refere-se a uma epidemia de informações, sobretudo neste momento de pandemia do novo Coronavírus.
Será que esse excesso de informação, vindo sobretudo das redes sociais, a que somos submetidos ajuda ou atrapalha a nossa saúde e bem-estar?
Ainda de acordo com o relatório da Domo, nas redes sociais, por exemplo, usuários postam quase 350 mil stories por minuto. O Tiktok é instalado mais de 2.700 vezes por minuto. O estudo Global Digital Overview 2020, realizado pelo “We Are Social”, em parceria com a ferramenta Hootsuite, aponta que um usuário médio da internet fica 6 horas e 43 minutos online diariamente.
Felicidade de Instagram
Um efeito que por vezes tenho observado é a exposição exacerbada sempre da melhor versão das pessoas, cujas vidas perfeitas são desprovidas de desafios. O que mais parece uma vitrine com viagens, novos bens e aquisições, momentos felizes e famílias sem percalços.
Muitos vivem uma realidade virtual que em nada se assemelha à vida real. Nada contra os bons momentos, mas analise quanto é raro ver uma pessoa postando mensagens sobre seus desafios nas redes sociais!
Aquele ditado popular de que “a grama do vizinho é sempre mais verde” causa a errônea sensação de que somos seres que não têm altos e baixos. Mas não se engane! Ninguém vive no “país das maravilhas”.
Cada vez mais conectadas e com o desejo de não perder nenhuma nova atualização, as pessoas correm o risco de exagerar no uso das mídias sociais digitais, que servem como uma régua para medir a própria felicidade.
Esses comportamentos, com base nas chamadas métricas de vaidade, são prejudiciais e não refletem a verdade sobre vida comum das pessoas. Além disso, estimulam o culto à “felicidade de Instagram”, revelada minuto a minuto em fotos e vídeos no feed e nos stories. Tudo isso gera, a meu ver, uma ansiedade excessiva que pode culminar com distúrbios na saúde física e mental.
Prejuízos na vida profissional
Uma pesquisa realizada pela consultoria Falconi, e divulgada pela revista Exame, apontou que o isolamento social trouxe mais ansiedade e mais solidão. O resultado é que doenças como depressão e Síndrome de Burnout tiveram um aumento de 37% nas empresas.
Para piorar, pessoas que são impactadas pelo excesso de informação têm prejuízos no Sistema Nervoso Central, sobretudo em áreas do córtex cerebral responsáveis por funções executivas como planejar atividades, priorizar prazos, fazer cálculos, usar a memória no dia a dia, concentrar-se em atividades simples como a leitura de um livro etc.
Esses são alguns dos efeitos da sobrecarga de informações sobre o nosso cérebro, que, assim como um computador com a memória cheia, corre o risco de entrar em pane e simplesmente desligar!
Ou nos preocupamos com o contexto de ataque ao cérebro, como uma realidade a ser de fato encarada, ou teremos consequências preocupantes em relação ao nosso emocional, tanto nas relações pessoais quanto no trabalho.
Felicidade e bem-estar aumentam a produtividade
Eis que um cérebro positivo, como foco no presente, e a busca autêntica pela saúde do corpo e da mente podem ser a saída para os problemas causados na atual sociedade da hiperinformação.
Precisamos estar atentos ao que Shawn Achor, pesquisador e autor do livro “O jeito Harvard de ser feliz”, traz numa palestra do TED como “vantagem da felicidade”, que está ligada a trabalhar o cérebro para viver no presente de maneira positiva. Segundo Achor, esse contexto interno ligado ao bem-estar subjetivo resulta num desempenho melhor, no qual energia, criatividade e inteligência aumentam significativamente.
Para o autor, o ambiente exterior não pode prever nosso nível de felicidade, sendo que, no longo prazo, 90% do conceito de felicidade está relacionado à forma como o nosso cérebro processa e interpreta o mundo, por meio do otimismo, das relações sociais e da nossa capacidade de ver o estresse como um desafio e não como uma ameaça.
Efeitos do cérebro positivo
Note que um cérebro focado no aspecto positivo da realidade é 31% mais produtivo do que o negativo, neutro ou estressado, ainda de acordo com os estudos de Shawn Achor. Um vendedor neste estado é 37% mais eficaz, afirma o conferencista.
Por isso, precisamos compreender que a felicidade não é um objetivo futuro a ser perseguido. E sim uma conquista saboreada durante a jornada, resultando no aumento dos nossos índices de bem-estar subjetivo, com a liberação de hormônios da felicidade.
O que podemos fazer
Precisamos urgentemente de equilíbrio! Esse estado, de acordo com o Portal Plenae – perfil de sobre qualidade de vida idealizado por Abílio Diniz e a esposa Geyse Diniz, estaria ligado ao bem-estar, que é o resultado da satisfação pessoal somada aos afetos positivos, menos os negativos, normais numa vida real!
Por fim, resta dizer que precisamos redefinir nossas métricas de sucesso para pequenas conquistas reais, como a sensação de alívio em resolver uma questão desafiadora, o sentimento de gratidão por concluir um projeto no trabalho, a alegria por ajudar um colega a concluir uma negociação, sorrir de si mesmo quando algo sai fora do previsto, celebrar uma meta atingida em equipe e cultivar emoções positivas ao estar com quem amamos. Pratiquemos!
Evandro Tokarski é o CEO do Grupo Farmácia Artesanal. É praticante de Yoga e meditação. Tem formação em master coach e autoconhecimento. Possui MBA em Liderança e Gestão Organizacional, além de outras pós-graduações em Gestão e Administração.