Conheça os benefícios de usar o Storytelling em tempos de “infodemia”
Antes de explicar por que usar o Storytelling, é preciso entender o contexto em que…
Antes de explicar por que usar o Storytelling, é preciso entender o contexto em que estamos inseridos. E fazendo um paralelo à pandemia do novo coronavírus, vivemos nesta quarentena uma infodemia, ou seja, uma epidemia de informações causada pela propagação exponencial de conteúdo (muitos deles fruto de desinformação).
O termo “infodemia” ficou conhecido depois que o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, fez uma citação na Conferência de Segurança de Munique, em 15 de fevereiro. Na época, sequer imaginávamos o que viria pela frente tanto em termos de vírus quanto de avalanche de informação sobre a doença.
Esse fenômeno não é recente e foi caracterizado na década de 1970 por Alvin Toffler como “Information Overloard” ou “sobrecarga de informação”. Isso ocorre porque, na sociedade da informação, qualquer pessoa com celular na mão e com internet pode produzir e publicar seus próprios conteúdos.
Os chamados prosumers – termo também cunhado por Toffler para se referir a pessoas que consomem e produzem conteúdo – têm o poder de aumentar a cada segundo o volume de informação produzido na rede.
Economia da atenção
Trazendo o termo da saúde para outras áreas, a infodemia está muito relacionada a volumes exorbitantes de informações a que somos submetidos diariamente.
Dessa forma, surgem reflexões cruciais quando estamos nos comunicando ou apresentando uma ideia:
01 – como podemos levar a nossa voz e sermos ouvidos no contexto de tantas outras histórias?
02 – Depois de sermos ouvidos, como envolver o interlocutor na conversa e destacar o nosso conteúdo em meio ao tsmunami de informações?
Uma frase extraída do livro “Storytelling – Aprenda a Contar Histórias com Steve Jobs, Papa Francisco, Churchill e Outras Lendas da Liderança”, de Carmine Gallo, indica como podemos trabalhar a comunicação para nos destacar:
“Na era da informação, na economia do conhecimento, você é tão valioso quanto suas ideias. Uma história constitui o meio pelo qual você transfere essas ideias para os outros, e empacotá-las com emoção, contexto e relevância é a habilidade que o tornará mais valioso na próxima década.”
O que é Storytelling?
Storytelling é contar uma história com método, com intuito de gerar o engajamento das pessoas. “Story” significa história, que pode ser tanto um recorte da realidade quanto algo extraído da imaginação humana. “Telling” quer dizer contar. Envolve técnica, roteiro, preparação e estratégia.
Contar uma história é um ato social muito antigo. Nós seres humanos usamos as histórias desde o tempo das cavernas para nos comunicar em grupo, transmitir uma cultura e para nos relacionar. Por meio das histórias aprendemos, ensinamos, pensamos e evoluímos.
Storytelling e a neurociência
Originalmente, nosso cérebro foi preparado para ser atraído por histórias, uma das nossas primeiras formas de comunicação.
Isso porque, segundo Carmine Gallo, quando ouvimos histórias inspiradoras são liberadas substâncias químicas como a dopamina (neurotransmissor responsável pelo prazer), o cortisol (hormônio ligado ao estado de alerta, liberado quando prestamos atenção em algo ou alguém) e a ocitocina (hormônio que favorece a empatia, a conexão com as pessoas).
Esse poder por trás de boas histórias histórias se deve à ativação no cérebro do espectador de áreas muito além da fala e da compreensão – respectivamente chamadas de Brocka e Wernicke.
Por meio do acoplamento neural e do espelhamento, as histórias inspiradoras ativam áreas relacionadas à visão, audição, olfato, córtex motor e somatossensorial. Afinal, de contas você deve se lembrar de um filme que mexeu completamente com os seus sentidos e até mesmo com o seu corpo, não é mesmo?
Por isso, um Storytelling benfeito é capaz de moldar as nossas ações, nos fazer refletir e até mudar nossas crenças e pensamentos a respeito de temáticas importantes e de pessoas devido à “familiaridade empática”. Ou seja, essa conexão muito próxima com quem narra os fatos.
Contribuição de Aristóteles para o Storytelling
Para que o Storytelling seja bem construído, vamos acrescentar um ensinamento milenar vindo da Grécia Antiga. De maneira simplificada, o filósofo grego Aristóteles (384 a.C.- 322 a.C), em A Arte da Retórica, acredita que o bom orador deve ter como base os pilares:
– Ethos = Caráter, confiança, credibilidade (gera isso na plateia)
– Logos = Razão, aquilo que se pode explicar, racionalizar
– Pathos = Paixão, emoção, que gera conexão com as pessoas e encanta a audiência.
05 contribuições para o Storytelling
Com base nos ensinamentos de Aristóteles, podemos extrair contribuições para criar histórias de sucesso:
- Desperte o interesse na plateia com sua história
- Narre um problema que seja passível de resolução
- Ofereça solução ao problema ilustrado
- Aborde quais são os benefícios de se adotar a ação proposta
- Apresente um chamado à ação
Storytelling clássico em 03 atos
Você já ouviu falar que as boas histórias precisam ter início, meio e fim. Por outro lado, também deve ter ouvido comentários do tipo: “fulano contou uma história confusa, sem pé, nem cabeça”. Esses são dois extremos da moeda chamada narrativa. Um positivo, e o outro negativo.
Em resumo, para criar uma narrativa com técnica, é preciso partir de um ponto A em direção a um ponto B. Aquilo que ocorre no caminho, ou no meio da história, certamente fará toda a diferença para engajar o público.
Para demonstrar uma maneira de produzir um roteiro de Storytelling, vamos usar uma técnica clássica da divisão das narrativas em atos 01 (início), 02 (meio) e 03 (fim), proposta também na Grécia Antiga.
ATO 01
Aqui começa a história. No início, ocorre a apresentação de uma personagem. Quais são seus valores, seus desejos? Quais são as motivações dessa pessoa, qual é o contexto em que ela vive e que situações podem motivá-la a mudar de situação?
ATO 02
Depois da apresentação da personagem, geralmente ocorre um evento gatilho que desencadeia uma jornada. Essa pessoa enfrenta muitos desafios, vivencia dificuldades, muitas vezes conflitos (internos e externos), pensa que não é capaz de chegar a uma solução. Cai, levanta.
Neste contexto, pode receber a ajuda de um mentor, por meio da sabedoria de um conselho, ou mesmo de algum conhecimento adquirido num curso, num livro etc.
Aqui destacamos a importância da personagem vivenciar uma jornada desafiadora:
“Conflito cria tensão e tensão mantém as pessoas engajadas com a história. (…) Quem somos e o que queremos ser – mais o que os outros podem esperar de nós – é o fio central da experiência humana olhando para a sua existência”, afirma o ator Kevin Spacey.
ATO 03
Nesta etapa, estamos chegando ao fim da narrativa. Depois do ponto máximo da história, ou clímax, vem a resolução de toda a problemática. É quando a personagem alcança seus objetivos, chega finalmente ao ponto B. Com isso, ela aprende e retorna à vida, mas jamais será a mesma pessoa, devido à lição aprendida.
No ato 03 do Storytelling, é que podemos levar as pessoas à uma ação, a uma mudança de comportamento, pois a audiência faz a simples conexão: “se a personagem tinha medos e desafios parecidos com os meus e venceu, eu também posso”.
Exemplo: Filme à Procura da Felicidade
Com base no filme À Procura da Felicidade (2006), no ato 01, conhecemos Chris Gardner, personagem de Will Smith, que é um cuidadoso pai de família com problemas financeiros que tenta manter sua família, mas é abandonado pela esposa e precisa criar sozinho seu filho de 5 anos.
No ato 02, Chris decide mudar a situação usando suas habilidades de vendas para conseguir uma vida melhor para os dois. Porém o caminho é muito difícil.
Ele consegue um estágio não remunerado numa grande corretora de seguros. Sem dinheiro para pagar aluguel, é despejado e precisa dormir numa estação de metrô até conseguir passar todas as noites num abrigo.
Finalmente, no ato 03, depois muitos nãos e de parecer que as coisas nunca dariam certo, devido à força de vontade e persistência, Chris consegue uma vaga na corretora e se torna um dos melhores e mais bem-sucedidos corretores da história da empresa.
Exercício final: Logline
Finalmente, deixo um exercício para praticar uma comunicação de impacto e com concisão, ideal para esses tempos de “infodemia” e excesso de informação.
Depois de elaborar a sua história com base nos 03 atos, recomendo que crie um resumo dessa narrativa que esteja sempre na ponta da língua. Trata-se conceito de logline: duas a três frases que sejam capazes de resumir a narrativa, de forma enxuta e envolvente.
Veja o exemplo do filme À Procura da Felicidade:
É a história real de um corretor de seguros com graves problemas financeiros que usa a esperança e o talento em vendas para proporcionar uma vida melhor ao seu filho de cinco anos.
Agora é a sua vez!
Fonte:
GALLO, Carmine. Storytelling. Aprenda a Contar Histórias com Steve Jobs, Papa Francisco, Churchill e Outras
FOREBRAIN. [E-book] Storytelling e Neurociência – Um Novo Olhar. Acesso em 27/02/2020, às 13:03. Disponível em http://conteudo.forebrain.com.br/ebook-storytelling-e-neurociencia
PALLACIOS, Fernando; TERENZZO, Martha. O guia completo do Storytelling. Rio de Janeiro: Alta Books, 2016.
TOFFLER, Alvin. O choque do futuro. São Paulo: Artenova, 1973.