Concorrência

Google tenta convencer usuários de que se importa com privacidade

Ainda neste ano, os serviços de mapas e de buscas da empresa ganharão um modo anônimo, que desativa o armazenamento de informações da navegação no perfil do usuário

Lançamentos de novos aparelhos e tecnologias como inteligência artificial e realidade aumentada costumam ser os destaques de eventos do Vale do Silício, mas ferramentas de privacidade também estiveram no palco do Google I/O deste ano, conferência anual da marca para desenvolvedores.

A empresa mostrou uma série de medidas voltadas para aumentar o controle dos usuários sobre seus dados e tentou mostrar que se preocupa com a proteção dessas informações.

Ainda neste ano, os serviços de mapas e de buscas da empresa ganharão um modo anônimo, que desativa o armazenamento de informações da navegação no perfil do usuário, e uma ferramenta que deleta os dados guardados periodicamente.

Já a próxima versão do Android contará com uma seção de fácil acesso dedicada às configurações de privacidade do telefone. E a Nest, divisão de equipamentos para a casa, divulgou uma nova política em que promete ser transparente com relação a como seus aparelhos coletam e processam informações.

Numa indústria marcada por sucessivos escândalos de mal uso de informações de usuários e brechas de segurança, a privacidade se tornou um diferencial e terreno para disputas.

Ao enumerar essas iniciativas do Google em um artigo para o jornal The New York Times publicado na terça-feira (7) o presidente da companhia, Sundar Pichai, alfinetou a Apple, defendendo que “privacidade não pode ser um bem de luxo oferecido apenas a pessoas que possam bancar produtos e serviços de primeira linha”.

A fabricante dos iPhones tem feito da proteção de dados uma estratégia de vendas, se aproveitando do fato de que, diferentemente de Facebook e Google, ela ganha dinheiro principalmente com a venda de equipamentos, não com a distribuição de publicidade refinada pela coleta em massa de dados.

A Apple diz em seu site que considera privacidade “um direito humano” e frequentemente enfatiza a questão em seus anúncios publicitários, usando slogans como “Privacidade. Isso é o iPhone” e “Se privacidade é importante na sua vida, também deveria ser no seu telefone”.

Num momento em que o Google investe para também se tornar uma grande fabricante de hardware, especialmente para a casa, convencer o público de que toma cuidado com os dados sensíveis coletados por esses aparelhos pode ser a diferença entre falhar ou ser bem sucedido no segmento.

Em uma pesquisa do instituto Survey Monkey, 93% das famílias que possuem caixas de som inteligentes nos EUA disseram se preocupar com questões de privacidade.

Talvez ainda mais importante seja evitar os danos que podem ser causados por uma postura displicente com a proteção de dados, como ilustra bem o escândalo recente do Facebook com a Cambridge Analytica, consultoria de marketing político que usou indevidamente dados de 86 milhões da rede social.

Depois que o episódio se tornou público, no primeiro semestre de 2018, o preço das ações da empresa de Mark Zuckerberg chegou a cair de US$ 185, em março, para US$ 124, em dezembro, e só recentemente recuperou seu valor original.

Uma pesquisa de opinião encomendada pelo site Recode também sugere que o episódio afetou a imagem pública da empresa: 56% dos americanos entrevistados disseram que a companhia de Zuckerberg é a menos confiável entre as gigantes da tecnologia.

Por fim, o Facebook ainda está espera a conclusão das investigações sobre o caso por autoridades que, além dos desgastes, devem resultar em punição financeira.

No relatório de resultados do último trimestre, a empresa reservou US$ 3 bilhões para pagar uma provável multa da FTC (Federal Trade Comission), órgão americano de proteção dos consumidores.