Neurociência

Medo de mudar: entenda como o cérebro pode aprender a se adaptar

Você tem medo de mudar? Já sentiu as seguintes reações em seu corpo? De repente…

Você tem medo de mudar? Já sentiu as seguintes reações em seu corpo? De repente as mãos trêmulas começam a suar frio, os músculos contraem em um movimento que se opõe à expansão das pupilas, a respiração fica mais acelerada, o coração dispara na tentativa de preparar seus membros para o ataque.

Essa é a resposta inicial do nosso corpo diante do novo, do inesperado. É assim que o cérebro, em sua parte mais primitiva, responde à qualquer mudança.

Mas o fato é que, no nosso cotidiano, as mudanças não estão mais relacionadas apenas a predadores em potencial e situações de riscos eminentes.

Na verdade, a vida moderna está inundada de mudanças e incertezas. Nós mudamos o tempo todo, tudo muda ao nosso redor. E por isso pensar e desenvolver habilidades que nos capacitam a encarar todas essas mudanças da melhor forma possível se mostra cada dia mais imprescindível.

 A mudança como uma constante

Mudar é algo inerente à vida moderna. É possível, inclusive, dizer que assim como respiramos, também mudamos. Mudamos com o passar do tempo e a todo tempo. Mudamos de endereço, de cor de cabelo. Mudamos de local trabalho e mudamos até de profissão. Alguns mudam inclusive de nome, de país, de estado cível.

Enfim, somos seres em constante mutação. Nossas escolhas, desejos, sucessos e fracassos, todos contém em seus pacotes o elemento mudança. Mas porque então, mudar ainda parece tão assustador? Porque, por muitas vezes, nos vemos estáticos diante das mudanças?

A ciência e o medo

A neurocientista Cassia Oliveira explica que toda mudança é vista pelo cérebro como ameaça, e toda ameaça tem intrinsecamente um medo subjacente. A especialista reitera ainda que o cérebro é naturalmente resistente a qualquer tipo de mudança. Segundo a pesquisadora, dentro da perspectiva evolucionista, o cérebro foi programado para detectar ameaças e se proteger delas.

Newton Canteras, professor titular do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB/USP), reitera, em um de seus vídeos para a TV USP, que esse medo inato foi uma ferramenta fundamental para a sobrevivência humana ao longo de sua história na Terra.

Mas em contrapartida, os estudos desenvolvidos no ICB/USP  mostram também que é possível superar o medo e que muitos dos nossos medos, diferentes do medo inato narrado inicialmente, são aprendidos ao longo da vida, e formam o que é conhecido como memórias aversivas, que, segundo os estudos, podem ser reconfiguradas e superadas.

Formas de superação

Estudos na área das neurociências mostram que podemos “treinar” parte do nosso cérebro (o córtex pré-frontal) a perceber de forma diferente o medo. É o que os neurocientistas chamam de “remodelação da neuroplasticidade cerebral”.

A doutora Cassa Oliveira complementa que o sistema subcortical e o córtex pré-frontal influenciam reciprocamente para modular a resposta emocional que seria mais adequada para lidar com as circunstâncias de mudanças atuais. Afinal, não precisamos encarar uma mudança de trabalho, ou um pedido de aumento como um primata encarava leões e crocodilos, não é mesmo?

Encarar as mudanças como oportunidade e possibilidade de aprendizagem é orientação da neurocientista. Porém, Cassia Oliveira enfatiza que esse movimento de reconhecer e superar o medo exige esforço e treinamento, porém é uma habilidade imprescindível para nos tornarmos mais adaptáveis na sociedade contemporânea.

A vice-presidente da Goldman em Nova York, Natalie Fratto, complementa que a capacidade de adaptação dos indivíduos, o que ela chama numa palesta do TED de quociente de adaptabilidade (QA) será, cada vez mais, um diferencial no mercado de trabalho.

Para ela, a capacidade de se posicionar e prosperar em um ambiente de mudanças rápidas e frequentes é imprescindível para uma carreira de sucesso no mundo atual. “O QI é o mínimo que o indivíduo precisa para conseguir um emprego, mas o QA é o maior indicador de sucesso a longo prazo”, enfatiza Natalie Fratto.

Nesse sentido, o psiquiatra e autor de vários livros sobre a mente, Srinivasan S. Pillay, sugere que, para superar o medo, é preciso reorientar a mente para o curto prazo, ser explícito para você mesmo à respeito dos riscos e recompensas de cada escolha e situação, e reformular os objetivos atuais, impondo ideias positivas.

Natalie Fratto complementa que é preciso ter flexibilidade, demonstrar curiosidade, ser intencional, e por fim estar aberto a aprender e reaprender. Ou seja, lidar com o medo de mudança está relacionado a sair da zona de conforto e surfar no limite do que nos é incômodo, para que diante de cada nova situação estejamos mais hábeis, fortes, resilientes e adaptáveis.

Karen Farias é jornalista (UFG) e mestre em Educação e Recursos Humanos. Atualmente, vive com a família no Hawaii (EUA).