O que está em jogo na corrida tecnológica entre EUA e China
Prisão de executiva da Huawei é o mais recente capítulo na disputa entre as duas maiores potências do mundo
A prisão da diretora financeira da Huawei Technologies, Meng Wanzhou, é o mais recente capítulo de uma disputa entre EUA e China pela liderança na corrida tecnológica que irá guiar a próxima revolução industrial. Com as maiores companhias do mundo no setor, os americanos continuam à frente, mas os chineses investem pesado e, segundo analistas, jogam sujo para se aproximarem e até ultrapassarem os rivais do Ocidente. Conheça alguns dos campos que estão sendo disputados pelas duas maiores economias do planeta.
Inteligência artificial
As ambições humanas em máquinas inteligentes começaram logo após a Segunda Guerra Mundial, tendo o matemático britânico Alan Turing — personagem fundamental para a vitória dos Aliados — um dos principais entusiastas. Mas por décadas, limitações no poder de processamento impediram o avanço da tecnologia. Com a chegada da computação em nuvem, após a virada do século, pesquisadores e provedores de serviços ganharam acesso a poderosas ferramentas, que possibilitaram um salto no avanço tecnológico.
Hoje, a inteligência artificial se destaca pelo método conhecido como machine learning, ou aprendizado de máquina. Os sistemas, rodando em nuvem, são “alimentados” com toneladas de dados e “aprendem” a reconhecer padrões. Para reconhecer a fotografia de um cachorro, por exemplo, a máquina analisa milhões de imagens do animal e, com o tempo, aprende a reconhecê-lo. As mesma técnica pode ser usada para detectar tumores em exames oncológicos ou identificar pessoas em redes sociais.
Técnicas parecidas são usadas para analisar, com base em dados de milhões de usuários, os padrões de gostos por filmes e músicas em serviços de streaming ou o melhor caminho entre dois pontos em mapas, que guiam as recomendações em plataformas como Netflix, Spotify e Google Maps. E com o barateamento e a popularização das ferramentas, mais e mais soluções fazem uso da tecnologia.
Empresas com grandes quantidades de dados usam o machine learning para buscar padrões e otimizar a produção. A inteligência artificial, combinada com o big data, reconhece padrões antes imperceptíveis para os humanos, servindo de insumo fundamental para a tomada de decisões da indústria do futuro.
Computação quântica
Assim como as máquinas atuais, os computadores quânticos também representam a informação em séries de bits, mas em vez do sistema binário “0” e “1”, os bits quânticos, ou qubits, podem assumir um estado de sobreposição entre ambos. Simplificando, os bits operam como uma moeda, tendo apenas “cara” e “coroa”. O qubit seria mais como uma esfera, sendo um hemisfério “cara” e o outro, “coroa”. Manipulando a esfera, é possível colocar o qubit num estado onde é 40% “cara” e 60% “coroa” ou 99% “cara” e 1% “coroa”.
Essa característica abre caminho para uma grande número de estados possíveis num único qubit, permitindo que os computadores quânticos executem operações tão complexas que os mais modernos supercomputadores são incapazes. Em busca dessa capacidade, o mundo disputa uma corrida para quem irá desenvolver o primeiro computador quântico funcional.
Um relatório recente da Academia Nacional de Ciências, Engenharia e Medicina dos EUA mostra que existem cinco projetos públicos no mundo. O pioneiro, no Reino Unido, foi iniciado em 2014, com previsão de US$ 358 milhões em investimentos. Em 2016, a União Europeia lançou um consórcio para investimento de US$ 1,1 bilhão em dez anos. Na Austrália, o projeto é de US$ 33,7 milhões em sete anos e, na Suécia, de US$ 11 milhões. Já a China anunciou ano passado investimentos de US$ 11,4 bilhões em dois anos e meio. Nos EUA, as principais iniciativas estão no setor privado, em empresas como Microsoft, Google e IBM.
Entretanto, a única certeza que se tem sobre a computação quântica é que ela não substituirá o maquinário atual no curto prazo. Mesmo após o desenvolvimento das primeiras máquinas, elas ficarão restritas a centros de pesquisas e militares, como os atuais supercomputadores. Ninguém terá um computador quântico no escritório.
Redes 5G
Tema central na disputa entre EUA e China, o 5G é a próxima geração das redes móveis. Em vez do incremento apenas na velocidade, a nova tecnologia pretende ser capaz de oferecer outras características, consideradas essenciais para serviços do futuro. A baixa latência — tempo de resposta após o envio de um pacote pela rede — abre caminho para adoção dos carros autônomos, por exemplo, e de melhores experiências em realidade virtual e aumentada. Cirurgias robóticas, onde um cirurgião opera um braço robótico à distância em tempo real, também depende dessa característica.
As redes 5G também prometem alta confiabilidade. Elas não poderão oscilar, como os atuais 3G e 4G. Um carro autônomo, por exemplo, não pode ficar sem rede no momento em que tiver que decidir se deve ou não frear. Em termos de velocidade, a expectativa é que o 5G consiga entregar até 1 gigabit por segundo, o suficiente para a transmissão de vídeos em 8K.
A Huawei, uma das líderes mundiais no fornecimento de equipamentos para operadoras de telefonia, está envolvida numa disputa entre EUA e China que levou à prisão Meng Wanzhou, diretora financeira e filha do fundador da companhia chinesa, Ren Zhengfei. Ela foi detida na semana retrasada, no momento em que embarcava em um avião em Vancouver, no Canadá.