Team One: de um sonho goiano para grande empresa nacional
Equipe de e-sports nascida em Goiânia cresceu para se tornar uma das principais equipes multigame do Brasil
Se você acompanha qualquer e-sport, provavelmente já ouviu falar nessa equipe: Team One. Os times da empresa já chamaram a atenção conquistando boas posições em campeonatos de Counter-Strike e na luta semanal no CBLoL. A equipe já é uma das principais do Brasil. O que pouca gente sabe é que a One nasceu aqui, em Goiânia.
A empresa é fruto do sonho empreendedor de Alexandre Jorge Peres, nascido ainda em 2004, no auge das lan houses e de Counter-Strike. Ele e amigos formaram um time para competir, mas que com o tempo acabou sendo desfeito por falta de investimento:”Já naquela época alcançou um sucesso imediato classificando para os grandes torneios da época como WCG entre outros, em 2010 o time se desmontou por completo”, conta.
Mas a ideia já estava plantada. Em 2014, Alexandre ressuscitou a ideia com uma abordagem diferente: fazer uma empresa e não apenas um time. “A mudança de um time de CS para uma Empresa de e-sports surgiu em agosto de 2015, com investimento 100% próprio. Atualmente já contamos com algumas receitas vindas de publishers, e negócios que desenvolvemos, porém ainda continuamos a por dinheiro na empresa”, disse ele.
Quanto melhor os times se saem, maiores as chances de conseguirem investimento, o que por sua vez permite investir mais nas equipes e assim por diante: “Temos trabalhado bastante, buscando melhorar nossos números, para atrair a atenção de investidores e parceiros”. Porém, Alexandre conta que os goianos ainda são muito desconfiados quanto à e-sports, o que forçou a empresa a expandir cedo para outras regiões: “Como uma empresa goiana, tínhamos no inicio um foco em buscar parceiros no Centro-Oeste, mas o e-Sports ainda é pouco reconhecido em nossa região, o que nos levou a buscar parceiros de abrangência nacional, principalmente no Sudeste. Mas permanecemos atentos às oportunidades que surgem por aqui”.
Parte disso se deve ao preconceito. Pra muita gente, e-sport ainda é brincadeira de criança quando é, na realidade, uma indústria milionária: “No Brasil, equipes grandes de e-Sports já faturam acima da casa de um milhão/ano, em um cenário que ainda engatinha por aqui, por enfrentar muitas barreiras. Se olharmos o cenário mundial, veremos que já existem empresas faturando na casa 9 a 10 dígitos”, disse Alexandre.
Para ele, as pessoas precisam entender que o mercado cresceu para que as competições se tornassem um esporte mundial como qualquer outro: “De uma maneira geral, para facilitar o entendimento, o e-Sport é um esporte como outro qualquer, com rotina de treinamentos, competitividade e com público, muito público, e é isso que tem atraído os holofotes de emissoras de TV, e consequentemente de patrocinadores de todos os ramos, alimentício, automobilístico, bancário, entre outros. Na Europa ou América do Norte, o e-Sports já está desbancando audiência e patrocínios dos grandes esportes, como beisebol, basquete, futebol entre outros”.
A empresa agora possui até mesmo uma gaming house para suas equipes de League of Legends e Counter-Strike, localizada em São Paulo. Alexandre divide seu tempo entre Goiânia, São Paulo, campeonatos e onde os negócios o levam.
O principal jogo da One permanece sendo CS, afinal, é uma paixão antiga, mas aos poucos a empresa sempre tenta experimentar as possibilidades de englobar mais e mais jogos e equipes: “O CS:GO sempre foi o nosso carro chefe. Já chegamos a trabalhar outros jogos, como HearthStone, mas resolvemos focar no CS:GO e nos estruturar melhor como empresa, antes de buscar ampliar para outras modalidades. Com 5 meses trabalhando como uma empresa, conseguimos representar o Brasil, com nosso time de CS:GO, no mundial da WESG realizado na China, e a partir daí nos sentimos seguros para iniciarmos esta ampliação, e fizemos do CS:GO Feminino o nosso primeiro passo”, disse Peres.
A empresa fez algumas incursões em Dota 2 e Overwatch, mas não foram bem-sucedidas (ainda). As novas apostas da One são Clash Royale e League of Legends, ingressando no campeonato brasileiro: “Em maio surgiu a oportunidade de ingressar no LoL, através da aquisição da antiga INTZ, Gênesis, e assim o fizemos, ingressando no CBLoL. Após a aquisição e reformulação da equipe de LoL, decidimos por ingressar em outra modalidade, e estamos dando os primeiros passos no Clash Royale, com a contratação do ‘Mandrake’, e posso afirmar que já contamos com um cronograma para o ingresso em mais algumas modalidades”.
Atualmente, a One possui uma equipe feminina apenas em CS:GO, mas Alexandre disse que a ideia é formar times femininos nas demais modalidades. “Não sei se vamos conseguir, mas queremos sim tentar cada vez mais incluir as mulheres no cenário competitivo nacional. Mais de 50% dos gamers são mulheres, enquanto no e-Sports apenas 4% dos atletas são mulheres. Ainda é muito difícil melhorar essa inclusão, mas estamos trabalhando lado a lado com pessoas muito interessadas em mudar esta realidade”, promete.
Para ele, ainda falta espaço para as jogadoras no e-sport e ele espera que a One possa contribuir para uma maior inclusão: “Podemos apontar alguns fatores, mas muito disso se dá pela falta de espaço no cenário, e é esse espaço que pretendemos ajudar a criar, assim como já fizemos no CS:GO. Em 2016 houve apenas 1 evento presencial direcionado para as mulheres, entramos no cenário em fevereiro de 2017, e já tivemos este ano 3 eventos presenciais para equipes femininas, sendo 2 deles com grande estrutura. Não digo que somos os únicos responsáveis por isto, mas com certeza contribuímos pra este crescimento”.
Peres também contou que não tirou Goiânia e o Centro-Oeste dos seus planos: “No inicio éramos 100% do Centro Oeste, com atletas de Goiânia, interior de Goiás e Brasília. Com a ampliação, tivemos que adicionar algumas peças de fora, e hoje já contamos com 17 atletas, de várias regiões. Mas não perdemos o foco em apoiar os atletas da nossa região, e contamos com alguns projetos pra criação de uma categoria de base que busque fomentar e dar oportunidade para atletas do Centro-Oeste, que dificilmente conseguem alcançar o grande centro Rio-São Paulo. Assim que tivermos condições, vamos tirar estes projetos do papel”.
E de fato, eles têm realmente ficado atentos: “Estamos sempre de olho em novos talentos. Um bom exemplo que temos é o Alencar “Trk” Rossato, que cresceu em Jataí, uma região sem infraestrutura adequada pra se praticar e-Sports, por falta de internet de qualidade, mas com a dedicação necessária, ele está hoje disputando grandes campeonatos e conseguindo alcançar seus sonhos. Logo, acredito que em primeiro lugar é preciso dedicação e acreditar nos seus sonhos, e a medida que a evolução chegar virão as oportunidades, seja na Team One ou em outras grandes equipes nacionais. Como disse anteriormente, a ideia do nosso projeto é formar atletas e pessoas”.
Da mesma forma, mesmo tendo crescido para se tornar uma equipe nacional, Alexandre sonha em consolidar jogadores e torcedores goianos: “Como um apaixonado que sou pela nossa região, sempre defendi que este é o nosso diferencial perante as demais equipes, que são quase todas de São Paulo, e acredito que podemos contar com um público e um apoio praticamente exclusivo, pois sei que todos os goianos são, assim como eu, apaixonados pela nossa região. Tenho a chance de unir as torcidas de Vila, Goiás e Atlético em uma torcida única pela Team One, e seria louco se abrisse mão disto”.
Para o futuro, a One tem vários planos, mas os principais são manter os pés no chão e investir na educação e formação de seus jovens e-atletas: “Temos muitos planos, mas estamos com os pés nos chão para essa realidade do e-Sports que possui um crescimento muito rápido. Como instituição, acreditamos que não estamos aqui apenas para gerar entretenimento, conquistar fãs, patrocínios e lucros. A maioria dos nossos colaboradores são jovens, logo acredito que precisamos criar pessoas, profissionais, e tenho comigo que nosso maior plano agora, para não dizer desafio, é conseguir trabalhar bem os jovens que são e virão a ser nossos colaboradores. Identificado isso, estamos numa fase de projetos de como fazer da Team One uma empresa de e-Sports pioneira em um modelo nacional de formação de atletas, não só para se tornarem atletas, mas para juntamente a isso se tornarem profissionais em qualquer área que desejarem”.