Volkswagen Gol GTI é leiloado por R$ 118 mil
"Já vi um sendo vendido por R$ 150 mil", relata Silvio Luiz, proprietário da loja Old is Cool Motors
Você pagaria R$ 118,5 mil em um Volkswagen Gol fabricado há cerca de 30 anos? Se ele for da versão GTI e estiver em bom estado, tem gente hoje disposta a pagar até bem mais do que esse valor, desembolsado por um colecionador de Santa Catarina em um leilão digital no último sábado.
O Gol de quase R$ 120 mil, modelo 1993 com pintura cinza Spectrus, nem é dos mais cobiçados, conta Joel Picelli, leiloeiro da Picelli Leilões, responsável pela venda.
“Esse carro pertencia a um colecionador da região de Bauru, no interior paulista, que refez a pintura e a tapeçaria. Exemplares totalmente originais, sem restauração, atingem preços consideravelmente mais altos”, diz Picelli. Segundo o leiloeiro, que tem 42 anos e se diz fã do esportivo da Volks, um Gol GTI 1994 preto foi comercializado recentemente por mais de R$ 200 mil.
“As unidades mais valorizadas são da cor preta, que teria tido produção inferior a 200 veículos, bem como o GTI azul Mônaco modelo 1989, o primeiro. Exemplares na cor amarela Sunny também são raros e muito buscados pelos colecionadores. Apenas a restauração de um GTI hoje pode custar mais do que R$ 100 mil”.
Silvio Luiz, proprietário da loja Old is Cool Motors, localizada na capital paulista, é outro a contar que o hatch só tem subido de preço no mercado de veículos nacionais antigos. “Já vi um sendo vendido por R$ 150 mil”, relata o empresário.
Na comparação com outros esportivos brasileiros da mesma época, o GTI é disparado o mais caro. Para se ter uma ideia, Picelli relata que, no mesmo leilão do fim de semana passado, um Ford Escort XR3 1989 foi vendido por R$ 20,5 mil – quase 1/6 do valor pago pelo Gol cinza, que foi o carro mais caro do arremate.
Reginaldo Ricardo Gonçalves, o Reginaldo de Campinas, está acostumado a garimpar unidades do GTI pouco rodadas e em boas condições – cada vez mais raras de se encontrar.
Os achados do comerciante, especializado em carros clássicos, incluem um Gol GTI 1993, localizado em Belo Horizonte (MG) com cerca de 2.500 km rodados há cerca de seis anos, que revendeu no mesmo dia a um colecionador da capital mineira.
“Meus clientes querem automóveis predominantemente do final dos anos 1970 até os anos 1990, originais e com baixa quilometragem. Mais velhos do que isso, 99% das unidades que você encontra foram restauradas”, conta o caçador.
Por que é tão caro
Para Reginaldo de Campinas, que prioriza as versões mais caras e equipadas, quem busca veículos antigos em estado de zero quer comprar um “sonho”. Isso se aplica ao GTI.
“Quem compra um Gol GTI, que estreou em 1988, é porque viveu essa época. São clientes que tiveram o carro quando ele foi lançado ou não tinham dinheiro para comprar, mas hoje podem investir nesse sonho”.
A Volkswagen, conta, é a marca mais buscada por colecionadores de carros nacionais e, portanto, tem os carros mais valorizados. Ford e Chevrolet empatam na segunda posição, seguidas por modelos da Fiat. Joel Picelli destaca que o GTI, primeiro carro brasileiro equipado com injeção eletrônica, já era um dos automóveis mais caros do País quando novo – e isso ajuda a explicar por que tem ficado cada vez mais caro.
“Além de custar mais do que seus rivais diretos, o Gol GTI é um esportivo. Boa parte dos exemplares da época foi destruída ou maltratada pelos seus donos. Restaram poucos”, explica. Uma parcela importante das unidades que ainda existem em bom estado, para completar, pertence a um único colecionador.
Trata-se do empresário Fabio Costa, de Curitiba (PR), dono de 19 unidades do agora clássico.
“Tenho de todas as cores e derivações. Dos 19 carros, 60% deles são originais, sem restauração, com no máximo algum retoque. Os demais, na sua maioria, só tiveram a carroceria repintada e trazem mecânica e interior de fábrica”, conta o colecionador.
Ele tem poucos carros totalmente restaurados, a exemplo de um 1993 que recebeu pintura prata. “É uma cor exclusiva, a Volkswagen nunca vendeu GTI nessa tonalidade”, diz.
O empresário conta que seu primeiro Gol GTI, o preferido da coleção, é modelo 1992, tem carroceria cinza e foi adquirido em 2006 por R$ 32 mil, quando tinha rodado 36 mil km. Foi uma barganha, se levarmos em conta os preços atualmente praticados. Ele comprou o carro de Reginaldo de Campinas.
Reginaldo estima que existam atualmente menos de dez exemplares do GTI no Brasil nunca restaurados nem repintados, sem contar os carros de Costa.
“De GTI só repintado, sem restaurar, hoje são de 40 a 50 veículos. Existem cerca de oito totalmente originais, além das unidades do Fabio”, afirma Gonçalves.
Ou seja: a julgar pela estimativa, o colecionador de Curitiba tem mais da metade dos GTI mais valiosos do Brasil – e isso ajuda a explicar como os preços desses carros têm “inflacionado” tanto.
Segundo Fabio Costa, ele já recusou propostas por alguns veículos da sua coleção por não atingirem o preço que considera justo. Caso vendesse cada Gol da “frota” por R$ 150 mil, ele arrecadaria nada menos do que R$ 2,85 milhões.