Crítica

Warhammer 40,000: Dawn of War III: Fique calmo e DAKKA DAKKA

Novo jogo da Relic pode parecer intimidador à primeira vista, mas é um dos melhores do ano

Após um longo inverno, a Relic Games acaba de lançar Warhammer 40,000: Dawn of War 3 e o jogo já está polarizando fãs. Alguns acham que ele não se classifica como um RTS, sendo muito fácil e casual, enquanto outros fãs amaram o jogo, sua fidelidade à mitologia de Warhammer e suas novidades no gênero.

Essa polarização era, até certo ponto, esperada. Em boa parte porque a franquia possui uma das comunidades mais tóxicas e fechadas dos games e em segundo lugar porque a Relic, um dos melhores estúdios de jogos de estratégia do mundo, tende a sempre procurar uma forma de inovar sem isolar novos jogadores.

Vale ressaltar que o jogo chega com uma bronca séria para resolver: os jogos de estratégia estão em uma luta para renascer das cinzas e DW3 ainda precisava vencer as expectativas do passado. O primeiro jogo, lançado em 2004, foi incrível, mas acabou ofuscado pelo sucesso de Warcraft III, só sendo reconhecido pelo grande público anos depois, graças a sucessivas promoções na Steam.

Já o segundo jogo, de 2011, abandonou o RTS, abraçando a estratégia de tática por esquadrão similar à Company of Heroes, o que causou uma fúria ainda maior dos fãs de estratégia e Warhammer (que agora têm a cara de pau de dizer que amaram o segundo jogo).

Sem mais delongas, DW3 é um jogo de estratégia em tempo real que se passa no universo ficcional de Warhammer 40k, da Games Workshop. Se trata de um futuro longínquo em que diversas raças, todas elas babacas, vivem em um estado de estagnação tecnológica, falta de recursos, fanatismo religioso e guerra perpétua.

O bom

O jogo nos dá a oportunidade de jogar com três facções diferentes que são ao mesmo tempo muito diferentes e muito parecidas entre si. O time padrão são os Space Marines, super-soldados e monges guerreiros do Imperium dos Homens. Na vertente mais sutil, temos os Eldar, uma raça decadente extremamente avançada e sutil com veículos que flutuam, campos de força e teletransporte. Já na pegada mais porradeira, temos os Orks, um grupo agressivo, direto e focado apenas em causar o caos nas linhas inimigas.

Digo que são muito diferentes porque cada uma possui, pelo menos superficialmente, um estilo de jogo próprio. Os Space Marines possuem unidades mais caras e encorajam os upgrades, se tornando um pouco lentos no início, mas implacáveis em um late game.

Já os Orks são o oposto: priorizando o moedor de carne e o combate, eles são feitos para rush, tornando escaramuças constantes a estratégia de lei da facção. Eles inclusive obtêm melhoramentos resgatando sucata do campo de batalha e não de um arsenal.

E por fim, os Eldar são os mais difíceis: apesar de seus campos de força, suas unidades também são caras e eles possuem a capacidade única de construírem portões para o transporte rápido de tropas direto para o campo de batalha. Nas mãos de um jogador experiente, podem ser insuperáveis, mas nas mãos de um novato pode ser morte certa.

Críticos do jogo estão dizendo que DW3 é um MOBA disfarçado de RTS e isto é uma mentira deslavada. O jogo bebe da fonte dos MOBAs, sim, mas da forma com que Warcraft III introduziu as unidades heroicas em sua mecânica.

Os heróis em DW3 se chamam Elite e são libertados por pontos de elite ao longo do jogo, geralmente conquistados em combate. Cada facção pode ter até três elites e quando um deles morre é uma verdadeira tragédia que pode custar a vitória.

Ao invés de simplesmente acusar o jogo de ser um MOBA, é interessantíssimo ver um RTS trazer de volta os heróis de Warcraft e saber como usá-los, melhorando a experiência de jogo ao redor deles. Mais do que nunca, eles são centrais em conjunto com as tropas bucha de canhão nas linhas de frente.

A melhor parte de DW3 é que ele é divertido: o jogo é fácil de aprender, embora a sua interface não seja exatamente intuitiva. Ele traz uma lufada de ar fresco a um gênero quase morto, entregando um RTS ágil, bonito e frenético.

O multijogador

No multiplayer, porém, ele realmente vira um MOBA. De maneira bem clara, a Relic demonstra ter interesse de tirar este gênero da mesmice. Embora Heroes of the Storm tenha trazido mudanças para o cenário ainda dominado por League of LegendsDota 2, DW3 quer a difícil missão de mudar o cenário completamente.

Só há um modo multijogador três contra três e que mistura os elementos de estratégia com MOBA. O esqueleto de Dota, LoL e HOTS está lá: vence o time que destruir primeiro e em ordem três estruturas-chave do inimigo.

Para fazer isso, além dos Elites, cada jogador deve construir sua base e conseguir manter os pontos de recurso do mapa, obtendo assim mais recursos para fazer mais tropas e vencer.

É um caos, é muito difícil e é muito, muito bom. Este modo ganha muita força ao conseguir trazer a competição frenética dos MOBA de volta para os RTS ao mesmo tempo em que consegue tornar o cenário de MOBA muito mais complexo.

Se você já achava que em LoL ou Dota o trabalho em equipe era fundamental, aqui é muito mais, já que todos possuem tropas e bases à disposição e apenas poucos pontos de recursos necessários para garantir a vitória.

O ruim

Lembra que disse que as três facções são parecidas? Isso vem do fato de que toda unidade possui uma equivalente nas facções inimigas. Isso tira um fator significativo de unicidade de cada um dos times.

O baque fica ainda maior por causa do lançamento de Total War: Warhammer no ano passado que trouxe e continuou trazendo facções que são completamente únicas em suas unidades, mecânicas e jogabilidade.

Dito isso, para os grandes fãs de estratégia complexa, o jogo é sim bastante raso. O paralelo com Warcraft III permanece aqui: há progressão de exércitos e upgrades, mas nada que não possa ser feito em uma partida de meia hora, adiantando bastante o late game.

Muitos sistemas foram simplificados ou removidos inteiramente para encorajar esse combate imediato e, naturalmente, o multiplayer, o que com certeza vai irritar os fãs de longa estratégia e de RTSs mais complexos, como Age of Empires.

Dito isso, faz falta um modo single player mais robusto: as opções são bastante limitadas e a campanha é boa, mas deixa a desejar. São 17 missões, todas elas bem longas, envolvendo todas as facções, porém a história é fraca e é difícil de se envolver. Portanto, a maior parte dos jogadores deve usar a campanha de tutorial, apenas para pegar o básico de todas as mecânicas e já se aventurar em outras paragens.

O jogo é muito pesado: para rodar no máximo, é bom ter um sistema robusto. O que não ajuda é que ele também é always on. Isso significa que muitas vezes você vai ter lag não por causa do seu PC, mas por causa de uma conexão instável de internet.

O veredito

Warhammer 40,000: Dawn of War III pode não ser o jogo que os fãs esperavam, mas é um jogo excelente, divertido, frenético e super acessível para os demais jogadores que nunca tiveram coragem de se arriscar na franquia.

O jogo peca por sua falta de facções – algo que será suprido em expansões e DLC – e por ser raso, muito voltado para o multiplayer. Ficará à critério do jogador decidir se quer uma experiência mais profunda.

Senão, vale a pena experimentar, especialmente seu modo multiplayer que une MOBAs e RTSs em uma harmonia inesperada.